domingo, 18 de abril de 2010

Tempo de Paz






Filme dirigido por Daniel Filho e tendo como elenco, Tony Ramos, Dan Stulbach, Louise Cardoso e Aílton Graça, entre outros..
Em 1945, para fugir da segunda Guerra Mundial, imigrantes europeus chegam ao Brasil, pelo porto do Rio de janeiro, passando por um interrogatório realizado por um membro da polícia especializada em torturas com o nome de Segismundo (Tony Ramos) funcionário oficial do governo de Getúlio Vargas.
Filme que é bem representado, levando o telespectador a acreditar que está assistindo a uma peça teatral.
O funcionário do governo Segismundo decide fazer do polonês o seu ultimo interrogatório.
Sendo Clausewistz (Dan Stulbach) ex-ator, que consegue escapar do nazismo depois de ver horrores que ninguém desejava ver, quer recomeçar sua vida no Brasil,  com mãos nas enxadas, trabalhando na lavoura. Chama a atenção dos agentes por não ter mãos de trabalhador de agricultura, falar o português fluentemente e até mesmo recitar poemas de Carlos Drummond de Andrade. Encaminhado para os escuros calabouços do cais.
Passa pelo interrogatório com Segismundo, que reluta em acreditar no que ouve, mandando – o  de volta ao navio.
Mesmo com a ausência de conflitos armados, a paz enfrenta grandes obstáculos, sendo uma dualidade difícil de ser enfrentada e vivenciada, principalmente por uma pessoa que sempre obedeceu e executou ordens dadas.



“Ai de mim.
Ai, pobre de mim!
Aqui estou, ó Deus para entender que crime cometi contra Vós.
Mas, se nasci, eu já entendo o crime que cometi.
Aí está motivo suficiente para Vossa justiça, Vosso rigor, porque o crime maior do homem é ter nascido.
Para apurar meus cuidados só queria saber que outros crimes cometi contra Vós além do crime de nascer.
Não nasceram outros também?
Pois, se outros nasceram que privilégios tiveram que eu jamais gozei?
Nasce uma ave e, embelezada por seus ricos enfeites não passa de flor de plumas, ramalhete alado quando veloz cortando salões aéreos, recusa piedade ao ninho que abandona em paz. E eu, tendo mais instinto tenho menos liberdade?
Nasce uma fera e, com a pele respingada de belas manchas, que lembram estrelas.
Logo, atrevida e feroz, a necessidade humana lhe ensina a crueldade, monstro de seu labirinto.
E eu, tendo mais alma, tenho menos liberdade?
Nasce um peixe, aborto de ovas e lodo e, feito um barco de escamas sobre as ondas, ele gira, gira por toda parte, exibindo a imensa habilidade que lhe dá um coração frio; e eu, tendo mais escolha, tenho menos liberdade?
Nasce um riacho, serpente prateada, que dentre flores surge de repente e de repente, entre flores se esconde onde músico celebra a piedade das flores que lhe dão um campo aberto à sua fuga.
E eu, tendo mais vida, tenho menos liberdade?
Assim...
Assim chegando a esta paixão, um vulcão qual o Etna quisera arrancar do peito pedaços do coração.
Que lei, justiça ou razão pôde recusar aos homens privilégio tão suave, exceção tão única que Deus deu a um cristal, a um peixe, a uma fera e a uma ave?"

Texto baseado na peça “ Novas diretrizes para tempos de paz”.

Ao encerrar o monólogo, Segismundo entrega-se ao prazer de tão belas palavras, e corre em seu rosto uma gota de lágrima caindo sobre o papel a ser carimbado e assinado.
A meu ver este foi o momento de maior primazia em todo o filme.
Colocar no blog, foi a forma que encontrei de compartilhar com todos os visitante a beleza do cinema e atores brasileiros, que levam o ser humano a despertar do âmago do Ser os melhores sentimentos existentes. Pois todos têm a capacidade de ser como a fênix, transformar dor em amor e fardo denso em leveza cristalina.
 Se possível assistam o filme.





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